segunda-feira, maio 08, 2006

Directamente de Winnipeg...


Não dormimos na forma por estas bandas. Como tal, apresento aqui a primeira grande entrevista deste tasco. Aqui, na primeira pessoa, Mr Chris Hannah.

Formados em 1986, em Winnipeg (Canada), os Propagandhi tiveram que esperar até 92 para chegarem a uma editora. Foi após abrirem um concerto dos NOFX, que Fat Mike os convidou para se juntarem à sua (na altura) recente editora, e o resultado desta união foi “How to Clean Everything”. Seguiram-se mais 13 anos, 3 álbuns, uns quantos Ep´s e uma passagem por Portugal, até chegarmos a “Potemkin City Limits”. Sempre apontando baterias a causas como a luta contra o racismo, a homofobia e um forte discurso anti-capitalista, o novo álbum não sai um milímetro dessa rota.

Conceptualmente falando, o que nos podes dizer acerca deste novo disco, “Potemkin City Limits”?

Em inglês, a expressão “Potemkin Village” refere-se a algo que é um embuste, uma farsa. A expressão provém da história de Grigori Potemkin, e no esforço que este fez para impressionar a imperatriz Catarina II, erguendo falsas vilas ao longo das margens do Voulga, aquando da viagem desta pela Crimeia.
“Potemkin City Limits” pretende transmitir a ideia de que chegamos um ponto na história da humanidade em que o logro atingiu o seu extremo, na forma mais absurda possível. Aparentemente, representamos a fase terminal da vida terrestre, mas continuamos a receber e a aceitar mensagens de que tudo está bem.

Em que sentido é que a situação política nos EUA condicionou o processo criativo que levou a este álbum?

Actualmente, vivemos envoltos em obscuridade. Sinto que os nossos tempos são mais negros do que a maioria das pessoas se apercebe, no que concerne a sermos parte de um planeta à beira da auto-imolação.
Claramente, a visão de uns irá afectar a quantidade de ideias que outros possam vir a expressar. Por isso, não deverá ser grande surpresa que aqueles momentos de humor disparatado sejam cada vez mais raros nos nossos álbuns.

Acreditas que possam vir a existir fortes manifestações de jovens a favor da paz, tal como aconteceu durante os anos 60 e durante a guerra do Vietnam?

Claro. Eu acredito que esse tipo de manifestação, de movimentos, estava a formar-se em grande força até ao 11 de Setembro. As mobilizações anti-globalização eram enormes e estavam a crescer ainda mais. Além de que eram muito mais radicais, progressivas e sofisticadas, mas acabaram por esmorecer com o rescaldo do 11 de Setembro.
O centro das atenções mudou, mas penso que voltará ao mesmo, inevitavelmente. Os protestos contra a guerra no Iraque, que se deram um pouco por todo o mundo, foram muito semelhantes – talvez menos sofisticados, mas com tanta, ou maior, adesão por parte dos jovens.

Poderá a música desempenhar um papel em tudo isto? Algo como a compilação “Rock Against Bush” pode marcar a diferença?

De certeza. A música pode ser um poderoso difusor de ideias, sejam elas boas ou más.

Desde “How To Clean Everything” até este novo disco, o vosso som mudou bastante. Esta mudança é mais evidente nos últimos dois álbuns, onde encontramos musicas mais longas e mais pesadas. Este processo de evolução foi natural?

Completamente natural. Passou muito tempo entre cada disco, o que pode levar as pessoas (que não nos ouvem com frequência) a estranhar bastante todas as diferenças, principalmente aqueles que estão habituados a ouvir bandas que editam álbuns de dois em dois anos. Nesses casos, os discos acabam por soar, mais ou menos, à mesma coisa.

Acaba por fazer lembrar, de um certo modo, o processo evolutivo dos Black Flag. Conseguem identificar-se com eles?

Sabes, não conheço suficientemente bem o trabalho mais recente deles para poder avaliar as coisas desse modo, mas eles fizeram música fantástica. Gosto de acreditar que o nosso processo evolutivo se pode comparar aos Voivod, Sacrifice, Razor, Nomeansno ou SNFU – são bandas que conheço bastante bem e as quais respeito muito.

Em 2003, foi anunciada a tua saída da banda e a entrada de um tal Glen Lambert. Só mais tarde se concluiu que não tinha havido qualquer alteração na formação. O que se passou? Humor típico dos Propagandhi ou golpe publicitário?

Eu achei que teve piada. Nunca dei grande importância ao assunto, e não fazia ideia que as pessoas fossem levar isso tão a sério como levaram.

Quais as vossas recordações de Portugal e do concerto em Lisboa?

Gente muito, muito, mas mesmo muito simpática. Muitas pessoas a sorrir. Também me lembro da nossa carrinha alugada se ter avariado, em plena hora de ponta, ao tentarmos subir de marcha-atrás a rua, inacreditavelmente íngreme, onde ficava o local onde íamos tocar.

Os Propagandhi sempre tiveram uma forte consciência social e humana, causas que passam quase despercebidas à juventude portuguesa. Onde é que nos podemos informar e contribuir acerca e para essas causas?

As pessoas têm que procurar dentro delas mesmas, e encontrar aquilo pelo que realmente se interessam nesta vida, e agir em conformidade, de modo a acarinhar e defender essas mesmas coisas. Quando era teenager, apercebi-me que, por algum motivo, interessava-me bastante pela continuidade da vida no planeta Terra, pela liberdade e pela democracia em prol dessas mesmas vidas. Então, comecei a procurar maneiras de acarinhar e defender aquilo pelo que me interessava. Procurei outras pessoas e organizações que partilhassem essas ideias e tentei ajudar.

Também me preocupo bastante com os Toronto Maple Leafs, a melhor equipa de hóquei no gelo do mundo. As minhas acções são sempre no sentido de defender e acarinhar a Leaf Nation.